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O doente imaginário

mise en scène Rogério De Carvalho

: O (Nosso) Doente ImagInário

Ensemble – sociedade de actores

Quando fizemos O Avarento em 2009, quisemos mostrar a tragédia da destruição moral operada pela obsessão de Harpagão na sua família, a loucura em subjugar tudo e todos à sua vontade, a sua desumanização patológica – e criámos um sério divertimento que voltámos a revisitar em 2010 e em 2011. Estranhamente, parece- -nos quase natural chegarmos agora a este Argão, que, tal como Harpagão, “é de todos os humanos o humano menos humano” (curiosa a aproximação fonética dos dois nomes inventados por Molière!...). Outra personagem obsessiva, patética, que não tem sentimentos por ninguém, grotesco no seu egocentrismo, que exige a atenção de todos sem nada dar em troca. Esta recusa da pluralidade, do reconhecimento do(s) outro(s), resulta na perda do real – por isso, ele tem tanto medo da morte.


É, aliás, brilhante o comentário de Jean-Luc Lagarce a propósito da personagem: “Um corpo que devora tudo, que impede os outros de viver, que os engole, devora e afoga, um corpo egoísta, monstruoso, que nega a existência dos outros corpos, que fala apenas de si próprio”.


Quando Molière escreveu O Doente Imaginário sabia que estava gravemente doente. Interpretava Argão (um falso doente de uma vitalidade incrível) e disfarçava com esgares risíveis a dor das suas convulsões, quando sucumbiu ao quarto dia de apresentações – é com a sua própria doença e com a morte que o autor brinca e nos faz rir. A morte está sempre a entrar em cena: rimo-nos da falsa morte de Luisinha para escapar ao castigo, das juras de suicídio de Angélica e Cleanto se forem separados e da hilariante tramoia de Tonieta, aconselhando Argão a fingir-se de morto para conhecer os verdadeiros sentimentos da mulher e da filha. Mas, na verdade, esta é uma comédia sombria que assenta numa lúcida reflexão sobre o medo da morte – e é nessa verdade mais profunda que nos queremos ancorar. É a tragédia e não a comédia que nos interessa revelar... para, enfim, nos rirmos, como Molière, das estúpidas permanências do comportamento humano.

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