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Couverture de Tão só o fim do mundo

Tão só o fim do mundo

de Jean-Luc Lagarce

Texte original : Juste la fin du monde traduit par Alexandra Moreira da Silva

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Tão só o fim do mundo : Extraia 3: Início do intermédio

Artistas Unidos n° 7

Cena 1


LUÍS – É como a noite em pleno dia, não se vê nada, só ouço os barulhos, escuto, estou perdido e não encontro ninguém.


A MÃE – O que é que disseste?
não ouvi, repete, onde estás?
Luís!



Cena 2


SUSANA – Tu e eu.


ANTÓNIO – O que quiseres.


SUSANA – Estava-te a ouvir, tu estavas a gritar,
não, pensei que tu estavas a gritar,
parecia que te estava a ouvir,
andava à tua procura,
estavam a discutir e reencontraram-se.


ANTÓNIO – Enervei-me, enervámo-nos,
não imaginava que fosse assim,
mas «como de costume», nos outros dias,
não somos assim,
não éramos assim, acho que não.


SUSANA – Sempre não.
Nos outros dias, cada um vai para seu lado,
nem nos tocamos.


ANTÓNIO – Damo-nos bem.


SUSANA – É o amor.



Cena 3


LUÍS – E depois, ainda no meu sonho,
todas as divisões da casa ficavam longe umas das outras,
e nunca as podia atingir,
era preciso caminhar durante horas e eu não reconhecia nada.
Voz da mãe:
Luís!


LUÍS – E para não ter medo, como quando caminho à noite, sou criança,
tenho de voltar muito depressa,
repito isto para mim próprio,
ou então ponho-me a trautear para ouvir apenas o som da minha voz,
e nada mais,
ponho-me a trautear que doravante,
o pior de tudo
«sei muito bem,
o pior de tudo
seria eu estar apaixonado,
o pior de tudo
seria eu querer esperar um pouco,
o pior de tudo....»



Cena 4


SUSANA – O que eu não entendo.


ANTÓNIO – Eu também não.


SUSANA – Estás-te a rir? Nunca te vejo rir.


ANTÓNIO – O que nós não entendemos.


Voz de Catarina:
António!


SUSANA, gritando. – Sim?
O que eu não entendo nem nunca entendi.


ANTÓNIO – E é pouco provável que algum dia entendesse


SUSANA – Que algum dia entenda.


Voz da mãe:
Luís!


SUSANA, gritando. – Sim? Estamos aqui!
ANTÓNIO – O que tu não entendes...
SUSANA – Não é assim tão longe, ele podia ter-nos vindo visitar mais vezes,
e também não há nada de muito trágico,
não há dramas, traições,
é isso que eu não entendo,
não podemos entender.


ANTÓNIO - «É assim.»
Não há outra explicação, mais nada.
Foi sempre assim, desejável,
não sei se podemos dizer isto,
desejável e longínquo,
distante, ideal para esta situação.
Ir-se embora e nunca sentir a falta ou a simples necessidade.


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