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Ah, os dias felizes

mise en scène Nuno Carinhas

: Excerto de uma entrevista

Intrigam-me os utensílios de sobrevivência que Winnie tem à mão, naquele saco caótico onde cabem as coisas que lhe são essenciais para a narrativa do dia. São objetos de um quotidiano banal de uma mulher que ainda se arranja, objetos conotados também com uma certa coquetterie… A dada altura, ela tira do saco uma caixa de música. É uma mala cheia de objetos que servem a uma mulher adulta como poderiam servir a uma jovem. O discurso de Winnie parece conversa fiada. Ela tenta despertar a atenção do Willie, socorre-se de determinadas coisas em relação às quais tem a expectativa que ele responda. Dá a deixa ao Willie e fica à espera da deixa que ele lhe possa dar. A palavra que Beckett usa em inglês para versos é lines, que também pode ser traduzida por deixas, na aceção teatral. Quando a Winnie pergunta “Como eram aqueles versos sublimes?”, é como se a atriz perguntasse a si própria o que está ali a fazer. Há na peça uma noção de perecibilidade. A tagarelice dela é um esforço de preencher ou deter o tempo. Sempre que tenta repousar, não consegue. Há uma condenação não só à sua condição física como também à perpetuidade da efabulação e da verbalização, como se o silêncio representasse aquilo que vem a seguir…



Nuno Carinhas Excerto de uma entrevista conduzida por Pedro Sobrado (julho 2013).

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